Novidade Filosófica!

A Travessia

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A Travessia Os impulsos elétricos   Ainda por procurar a passagem, o novo peregrino torna-se então, jogadores do tempo, onde os impulsos elétricos da inconsciência lapidam as memórias existentes levando-os, até à travessia, criando estratégia de lembranças... rumo ao desconhecido, porém, sempre amparados por seus guardiões.   E, desde que se formou, das duas metades do espaço tempo, recriando-se em outras partes, deixando memórias e levando consigo outras. Agora, jaz imbuída de apenas memórias, com as mãos vazias, coração oculto, carrega apenas o necessário. Distraída, levada pelo tempo, entre o inconsciente e o nada, redescobrindo as suas próprias fontes onde as imagens sempre aparecem. Sem tato, sem apego, tens agora as memórias das nove fontes sagradas, as que nasceste contigo, as partes que guardam o perfume do tempo e que só ele é o seu eterno guia. Velando como se fosse uma vestal, segura nos olhos a percepção, nas mãos, que carregam vazias, o som das conchas d...

No Vale da Morte

 



No Vale da Morte

  

Diante de um enorme portão de bronze, havia duas serpentes enroladas entre os frisos que desenhavam uma espécie de flor. Eu possuía duas chaves, nelas estavam inscritos; ar e a outra, sinceridade. Nos meus braços carregava uma mulher, minha mãe. Seu peso era como de uma pena, vestida de brumas e quase nem me dei conta de toda a vestimenta que cobria o seu corpo.

Peguei a chave que estava inscrito, sinceridade. Abri. A chave tinha que adentrar a boca da serpente encrostada, negra como azeviche.

Tudo que permanecia leve flutuou-se, e eu deixei que a destranca emitisse um som, mas ainda por transportar o seu tamanho e a sua nobreza, antiga como o tempo, nada rangeu-se.

Na imensidade da noite, eu entrei. Imbuída de levá-la, fazer a passagem. Nada senti, naquele momento. Apenas focada em ter que cumprir alguma coisa. Entrei.

Antes de entrar, ali havia plantada duas árvores frondosas, seus ramos caiam até o chão, dentre cada ramo de folhas grossas um punhado de ofídios. Elas, por sua vez, destemidamente me encaravam, sem medo, com eterna retidão.

Tudo era vago em pensamento, o tempo não existia. Então avistei o rio, uma lágrima minha surgiu e entre os caminhos deixei. — Eu teria que levá-la até lá e eu mesma deixá-la ali para que se esquecesse de tudo. Insuportável essa missão, eu devia levá-la para que eu me apagasse de suas memórias, eu devia cumprir a tarefa que jamais pensei que pudesse ser feita.

E, com a força dilaceradora de minha alma, a coloquei no chão, rente o rio, molhei uma das mãos e umedeci sua testa, seus olhos e suas têmporas. Os olhos que agora guardados na face interior do subconsciente via os que da carne jamais veria. A fronte mergulhada em outro tempo nas quais elas, as serpentes, regimentavam; na imortalidade.

As águas claras mansas e densas nada refletia, até que seu corpo foi levado por uma delas. Eu acompanhei sua rota no movimento de sua calda, era tão límpido que o espelho de seus olhos dava para ler; retidão, a palavra mais próxima de um olhar não severo, mas duro. O ofídio deixou-a entre duas colunas de bronze, onde suas memórias iriam ser lavradas, dali apenas uma voltava, contudo, foi difícil essa separação, a perda de algo valioso, algo que não me pertencia, mas que estava comigo. Como os seres que estão no mundo sem ser do mundo.

A fronteira de onde eu poderia pisar era até ali, sem nada a dizer, reclamar ou proferir. Eu não podia ir além e não podia ficar. Não era eu quem devia esquecer, era quem devia amar para que um dia esse mesmo amor pudesse abrir a fechadura da sinceridade. Eu ainda possuía a chave contendo a inscrição; ar. E, essa era a porção que devia tomar para voltar sozinha. Eu não a queria, não merecia, mas nada poderia decidir, não era a minha decisão, mas uma regra do próprio tempo.

O caminho era repleto de ofídios não famintos, mas seus olhares eram punidores. Lembrei-me, antes de partir, que se houver alguém para descansar minhas mãos sobre o meu colo um dia, eu poderei dizer ao tempo apenas pela expressão: — Agora, jaz, meu corpo é teu. Tu, oh morte pode levar, mas diante dessa postura imponderável, jamais pode me vencer, tenho você ao meu lado, nas rachaduras de minha carne, costurado na minha mortalha. Agora, és parte de mim e eu sou parte de tua glória. 

O caminho de volta não foi triunfal, mas teria que andar um bom tempo sozinha para trazer-me o conforto, a emoção contida, o ar em meus pulmões. Porque tudo lá dentro foi esplendoroso, arrebatador, fora do tempo, inverso e silencioso.

O portão de bronze abriu-se, por outro caminho, como se houvesse uma forquilha e com a chave inscrita ar eu retornei.


Tudo voltou a ser designado por padrões de tempo, o núcleo, por sua vez, é admirável!

 

Descanse em paz, mãezinha...


 TEXTO COM ©DIREITOS PRESERVADOS – ORIGINAL: CLAUDIANNE DIAZ
No Vale da Morte - Dedicado à minha querida mãe! 
20/05/1938 à 02/04/2025

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